DAVID COIMBRA

 

Em abril do ano passado, fui procurado, em Boston, por um empresário chamado Leonardo Fração. Não o conhecia. Um amigo em comum disse que ele queria conversar comigo e marcamos encontro no restaurante de um hotel perto da minha casa.

Esperava um senhor já entrado em anos, mas deparei com um homem jovem, estuante de energia. Nossa conversa foi objetiva, ao estilo norte-americano. Em breves minutos, Leonardo contou que vivia em Porto Alegre, gostava de viver em Porto Alegre e queria continuar vivendo em Porto Alegre. Com um porém – a situação da segurança pública o incomodava. Ele temia por sua família e seus amigos, o que, aliás, o iguala a todos os porto-alegrenses que conheço. O que o diferenciava é que ele pretendia fazer algo a respeito.

Os planos de Leonardo começavam a se formatar, por isso viera falar comigo. Queria ouvir opiniões, sugestões, talvez até advertências.

Bem, questões de segurança pública, todos sabemos, são complexas. Envolvem muitos outros setores da sociedade, como o da educação. Mas seria preciso começar por algum lugar, e Leonardo estava ansioso para começar logo. Escolheu auxiliar na contenção e na repressão ao crime. Saiu de Boston disposto a mobilizar parte da sociedade a fim de melhorar as condições da polícia gaúcha. Formou uma equipe de trabalho com três parceiros: Cláudio Goldsztein, Vitor Scheid e Carlos Eduardo Vianna. Os quatro convenceram outras 50 personalidades gaúchas a fazer doações para o projeto e acertaram com o governo como direcionar o que conseguissem. Alcançaram um montante de R$ 14 milhões, mas não repassaram o dinheiro: foram, eles mesmos, negociar com fornecedores e fechar os negócios. Vou listar abaixo o que já adquiriram para as forças de segurança do Rio Grande do Sul:

46 Pajeros com kit antivandalismo;
2 Sprinters de choque para transporte de tropas;
1.441 pistolas Glock;
46 fuzis Armalite 7.62;
60 fuzis Taurus 5.56;
Centenas de rastreadores para os carros;
Coletes à prova de balas;
Sistema de rádio integrado ao GOE;
Uniformes 5.11 para GOE e Gate.

Para garantir que esse tipo de ação não se torne meramente pontual, o grupo ajudou a conceber um projeto que cria uma lei de incentivo à segurança pública e à educação. O projeto está sendo encaminhado a votação na Assembleia e, se não enfrentar os habituais boicotes de opositores, deverá ser aprovado nos próximos dias.

Todo esse movimento partiu da sociedade civil em direção ao poder público. É a comunidade se organizando para resolver os seus problemas. Em vez de o cidadão ficar se queixando do Estado, esperando que algum iluminado faça algo para ajudá-lo, ele vai lá, se mobiliza e faz ele mesmo, com suas próprias mãos. Mais ainda: é ele quem socorre o Estado, e não o contrário.

Esse pequeno grupo de voluntários atua na segurança, mas ações do gênero podem ser exercidas na educação, na saúde, em todos os setores da vida pública. É algo que pode mudar a comunidade estruturalmente. Do que falarei mais amanhã.