Concorrentes ao Piratini defendem integração de municípios e forças policiais contra o crime, mas não detalham plano

MARCELO KERVALT
marcelo.kervalt@zerohora.com.br

Candidatos ao governo do Estado expuseram suas proposta para a segurança pública em um painel organizado pelo Instituto Cultu­ral Floresta (ICF), ontem, na Assembleia Legislativa. As regras determinavam que cada pergunta retirada de uma urna de­veria ser respondida em dois minutos por um único participante, cabendo direito de resposta apenas cm caso de ofensa pessoal. Ainda que as questões abordas­sem as mais diversas áreas da segurança, a integração dos municípios com o gover­no e das polícias entre si foi um tema tra­tado por todos. Mas faltaram detalhes de como isso pode ser colocado em prática.

Professor dos cursos de Tecnologia em Segurança Pública e Gestão Pública da Feevale, Charles Kieling explica que essa integração ocorre quando uma institui­ção ou um município compartilha infor­mações que possam ser úteis no combate à criminalidade ou, até, emite alerta so­bre algum delito que ultrapasse os limites territoriais de uma cidade.

– A expansão desse sistema depende apenas de recursos para compra de equi­pamentos como câmeras, computadores e software. Depois, é preciso fazer com que cada órgão queira compartilhar suas informações, e aí é que está o problema – observou o cientista social.

Primeiro a falar, Mateus Bandeira (Novo) afirmou que a criminalidade se combate com ações rigorosas e integra­das, além de “inteligência e polícia cientí­fica valorizadas”. Candidato do PDT, Jairo Jorge prometeu criar um conselho com representantes de Brigada Militar, Polícia Civil, Instituto-Geral de Perícias (IGP) e Susepe, com espaço para participação dos 20 maiores municípios.

Ao citar estatísticas que apontam queda dos homicídios e dos latrocínios no Esta­do no primeiro semestre de 2018 em rela­ção ao mesmo período de 2017, José Ivo Sartori (MDB) afirmou que esses resul­tados se devem ao Sistema de Segurança Integrado com os Municípios (SIM), que une Estado e prefeituras. Para o gover­nador, o compartilhamento de tecnolo­gia, informações e inteligência, somado à realização de operações conjuntas, pode ajudar no combate à entrada de armas e drogas pelas fronteiras.

A criação do Plano Estadual de Segu­rança Pública é uma das propostas de Eduardo Leite. O candidato do PSDB su­geriu que prefeitos também montem pro­jetos municipais para acelerar ações con­tra a criminalidade. Já Roberto Robaina (PSOL) disse que integração das forças policiais e do municípios “é fundamen­tal”, mas sugere mudança de prioridade no encarceramento para não aumentar o colapso prisional. Robaina entende que está se prendendo muito e mal.

O QUE ELES DISSERAM

Dos oito candidatos, Miguel Rossetto (PT) não compareceu ao evento organizado pelo Instituto Cultural Floresta, enquanto Julio Flores (PSTU) e Paulo Oliveira Medeiros (PCO) não foram convidados por falta de representatividade na Câmara de Vereadores de Porto Alegre ou na Assembleia

MATEUS BANDEIRA (NOVO) – O candidato disse ‘ver com bons olhos” parcerias público-privadas para construção de presídios e discordou de avaliação de Roberto Robaina (PSOL) de que há encarceramento em massa no Estado. Bandeira considerou a lei penal “extremamente branda”.

– Pelo contrário, prendemos muito pouco. O que existe é uma cultura de bandido latria
Para ele, é necessária a reorganização das contas públicas para que o Estado tenha condições investir na segurança.

JAIRO JORGE (PDT) – O ex-prefeito de Canoas falou em cercamento eletrônico por videomonitoramento nas cidades, criando uma rede integrada que dificulte ações criminosas. Também disse ser imprescindível valorizar o IGP, apostando no fortalecimento do uso de tecnologia de dados. O pedetista comprometeu-se com o continuidade das polícias comunitárias:

– Queremos menos impostos, buscar parcerias público-privadas e fazer concursos semestrais.

JOSÉ IVO SARTORI (MDB)  – O governador citou como exemplo positivo de sua gestão as permutas de imóveis para construção de presídios, como a nova penitenciária que está sendo erguida junto ao Presídio Central. Disse também que está investindo estrategicamente nas regiões com índices maiores de criminalidade. Sugeriu, ainda, a manutenção de um banco de imagens local com identificação de todos os foragidos. A transferência de 27 presos considerados líderes de facção para penitenciárias federais no ano passado foi exaltada pelo candidato à reeleição.

EDUARDO LEITE (PSDB) – O tucano enfatizou a necessidade de ações preventivas para combater a violência, citou a importância do acompanhamento escolar de crianças e adolescentes, local onde, segundo o candidato, podem ser detectados desvios comportamentais.

– Temos de impedir que crianças e adolescentes sejam seduzidos pelo crime – disse o ex-prefeito de Pelotas.

Leite defendeu o aumento do efetivo policial e a retomada da capacidade de investimento do Estado. Para que isso aconteça, disse ser indispensável uma reforma na estrutura do Estado.

ROBERTO ROBAINA (PSOL) – O candidato socialista defendeu a contratação de agentes da Susepe para retirar policiais da Brigada Militar de dentro do Presídio Central. Dessa forma, o efetivo da corporação que atua na casa prisional seria liberado para o policiamento ostensivo. Robaina disse ainda que é preciso alterar uma política que não prioriza a prisão de pessoas que cometem crimes contra a vida, mas sim de suspeitos de envolvimento com o tráfico de drogas.

– Tem de haver uma orientação do governo sobre isso – disse.